sexta-feira, 18 de junho de 2010

singularidade & universalidade em cada busca...

Eu cresci ouvindo Bach, Bethoven, Chopin... e também Ernesto Nazaré, Zequinha de Abreu..., choros, canções e tangos... Minha mãe era pianista; meu pai é cantor e compositor, mestre no tango. O engraçado, triste ironia da vida, é que sou péssima na musicalidade. O meu dom artístico se voltou para as artes do corpo. Adolescente, vivi uma experiência riquíssima, que me lançou ao mundo, com um grupo de teatro na escola. O mestre Joacir ... (me perdoe, mas esqueci seu sobrenome!) foi o primeiro que tive. Com esse grupo participei de um dos festivais de Ouro Preto, com a criação coletiva " Libertas quae será tamen ", no início dos anos 70, ainda em plena ditadura militar.
Anos passaram, a militância me desviou das artes, crendo que estudar economia me ajudaria a "mudar o mundo". Até que encontrei um companheiro, Sílvio Varjão, dramaturgo, ator e diretor, que me pôs de volta no lugar de onde não devia ter saído. Daí seguiram alguns outros mestres, dos quais, Ciane Fernandes, ocupa um lugar especial. Ela me deu a oportunidade de vivenciar, com a sua generoza presença, a linguagem da Dança-Teatro, me apresentou Rudolf Laban e Pina Bausch e, sobretudo, me revelou o continunm da relação Ser-Atuar, o doce alcance de nossa `banda de Moebius´.
Mas o mestre que me ensinou o verdadeiro sentido e valor da arte, infelizmente já não em vida, mas através da leitura do seu único livro -"Esculpir oTempo"- foi Andrei Tarkovsky, cineasta russo, que escreveu as seguintes palavras:
" O artista é sempre um servidor, e está eternamente tentando pagar pelo dom que, como que por milagre, lhe foi concedido" ( pg. 41, Ed. Martins Fontes, 2002)
Para Andrei Tarkovsky a criação artística deve estar ligada ao objetivo mais geral do conhecimento e contribuir para aproximar o ser humano de uma compreensão plena do significado de sua existência. A arte não deve apenas refletir, mas transcender a realidade, influenciando-a a partir de sua "intangibilidade silenciosa" de onde nasce o seu poder transformador.
Em sua compreensão espiritual da vida, Andrei Tarkovsky considera que o auto-conhecimento humano é o caminho para a evolução da humanidade. Arte e ciência são meios de assimilação do mundo, um instrumento para conhecê-lo, em direção à "verdade absoluta". Mas a verdade absoluta não significa, para Tarkovsky, uma verdade desvinculada do tempo e lugar:
"Toda época é marcada pela procura da verdade. E por mais horrível que ela seja, só pode contribuir para a saúde moral de um país.(...) o artista não pode expressar o ideal ético de seu tempo, a menos que toque todas as feridas abertas, a menos que sofra essas feridas na própria carne" (pg. 202)
Então, estamos todos nessa busca, cada um a seu tempo, seu jeito, sua história. Quer contar a sua?

Um comentário:

  1. Huahauha, olha eu, achando que ia comerçar! A Sônia postou quase na mesma hora (e antes)! Que legal! Adorei saber, Sônia. Também gosto muito do Tarkovski. É um dos meus cineastas favoritos. E Stalker, filme dele, um dos filmes. Qualquer dia escrevo sobre ele também!
    Bejão!

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