sexta-feira, 18 de junho de 2010

Esperando Godot

Caso estejam acanhadas, eu começo.
Ontem fui ao Centro Cultural São Paulo. Estou lendo um livro do Goethe, Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, que vou usar no mestrado, e fui lê-lo lá, já que não moro muito longe.
Vendo a biblioteca de cima daquele lindo salão, as pistas cortando os andares - já foram? -, lembrei de uma das primeiras vezes em que lá estive, há muito anos, no começo da faculdade. Eu fazia parte, na época, de um grupo de teatro amador financiado pelo Centro Acadêmico da Poli (Faculdade de Engenharia da USP), e havíamos decidido encenar Esperando Godot de Becket. É claro que não tínhamos o menor preparo para realizar tarefa tão difícil. Onde já se viu, começar com Becket? Não conseguimos por fim, mas não por despreparo. Acabou a verba e, sem professora, debandamos.
Contudo, a peça até hoje é uma das minhas favoritas. Vladimir e Estragom, dois amigos, numa paisagem onde só há uma árvore, esperam por motivo que desconhecemos, assim como eles próprios desconhecem, um tal de Godot. É uma peça em que acontece muita pouca coisa que não o desespero, a falta de sentido e a solidão do mundo moderno. Mas que tem também traços de esperança na amizade e inocência dos dois.
Passei uma tarde inteira na biblioteca do Centro Cultural, nesses tempos idos, lendo a peça de cabo a rabo, num só golpe. E até hoje, comprado o livro, me lembro, quando leio, da sensação que tive naquele dia, nessa cidade gigantesca que é São Paulo, um menino morando sem os pais, como eu, convidado, de repente, parecia, a entrar naquele mundo sombrio como o nosso, eu descobria mais e mais.
O romance de Goethe, por pura sincronicidade - como tudo comigo, ultimamente! - fala justamente sobre a formação pelo teatro. Mas qualquer dia falo mais sobre ele.
Um abraço!

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